top of page

O islamismo no continente africano

O islamismo no continente africano
Depois do Oriente Médio, do subcontinente indiano e do sudeste asiático,  a África se constitui numa quarta região que, apesar de menos  importante no passado muçulmano, vem adquirindo cada vez mais relevância  no contexto do chamado mundo islâmico.

O  número de muçulmanos na África é na atualidade estimado em mais de 300  milhões, cerca de 27% do total dos seguidores da religião criada pelo  profeta Maomé.

A islamização no continente africano se difundiu  muito mais pelo comércio e pela migração do que por conquista militar. A  expansão do islã na África seguiu três direções: do noroeste do  continente (região do Magreb), ela avançou pelo Saara e alcançou a  África Ocidental. A segunda direção foi aquela que, partindo do baixo  para o alto vale do Nilo, chegou ao nordeste da África (península da  Somália e arredores). Por fim, comerciantes originários da porção  sul-sudoeste da Península Arábica e imigrantes do subcontinente indiano,  criaram assentamentos no litoral do Índico e, dali, difundiram a  presença muçulmana para o interior.

O islamismo fez  sua entrada no continente a partir da África do Norte, do Egito ao  Marrocos, sendo uma das primeiras regiões a ser conquistadas pela  expansão inicial árabe-islâmica (séculos VII e VIII).


Expansão do Islã na África por volta de 1300 d.C.
Dos  séculos X a XVI, mercadores muçulmanos contribuíram para o surgimento  de importantes reinos na África Ocidental, que floresceram graças ao  comércio feito por caravanas que, atravessando o Saara, punham em  contato o mundo mediterrâneo ao das estepes e savanas do Sudão Ocidental  e África centro-ocidental. A conversão de certos monarcas africanos fez  não só o islã avançar como criou uma florescente cultura. Assim, cidade  de Tumbuktu (no atual Máli) era, no século XIV, um núcleo urbano  conhecido pelo alto nível de suas escolas islâmicas, que atraíam  muçulmanos de várias partes do mundo.

Na porção oriental do  continente, comerciantes árabes conseguiram se fixar junto ao litoral do  Índico, levando a gradual conversão de grupos africanos que viviam em  áreas da atual Eritréia e do leste da Etiópia. Todavia, os reinos  cristãos do alto vale do Nilo conseguiram bloquear por séculos o avanço  muçulmano, como foi o caso dos grupos etíopes, ocupantes dos altos  planaltos da Etiópia. Nos séculos seguintes, a cultura árabe-muçulmana  influenciaria grupos bantos que estavam em processo de expansão para a  África oriental e meridional.

Paralelamente, comerciantes árabes  cruzaram o Oceano Índico e criaram, do Chifre da África ao atual  Moçambique, um conjunto de importantes cidades-Estado e fortalezas,  junto ao litoral e nas ilhas, cujo comércio de ouro se manteve até o  início da presença portuguesa no século XVI. Às vésperas do início da  colonização européia, o islã se constituía na principal presença  "importada" no continente, presença esta que já estava fortemente  integrada às sociedades africanas.

O islã na África após 1800

Uma  nova fase da islamização no continente iniciou-se no século XVIII,  fenômeno que coincidiu com o auge da época escravista. Embora a servidão  já existisse em várias sociedades da África Ocidental, a captura de  seres humanos acelerou, a ponto de surgirem, no litoral do Golfo da  Guiné, novos "Estados", como o Daomé (atual Benin) e Ashanti (atual  Gana), como resposta à crescente procura por escravos que eram enviados,  em sua maioria, para servir como mão-de-obra nas plantations da América  tropical.

As armas de fogo que os mercadores de escravos  ganhavam em troca dos seres humanos apresados facilitavam novas capturas  que contribuíram para dizimar populações inteiras. Ao mesmo tempo, esse  perverso processo transformou os grupos caçadores e mercadores em uma  nova elite. Parte dos escravos vendidos eram muçulmanos e foi através  deles que surgiram os primeiros núcleos islâmicos nas Américas. Na  África Oriental, os escravos capturados eram, em sua maioria,  “direcionados” para o Oriente Médio.

No século XIX, o impacto  colonial mudou profundamente o quadro existente até então. Colonialistas  europeus - franceses e britânicos, além de belgas, italianos e  portugueses – criaram e consolidaram impérios concorrentes que puseram  fim aos "Estados" islâmicos independentes. Os ingleses, que até o século  anterior haviam sido os principais organizadores do tráfico negreiro,  passaram a impor o seu fim e, onde foi possível, aboliram a escravidão. A  diminuição do comércio de escravos trouxe conseqüências negativas para  as elites escravistas muçulmanas, desestruturando as estruturas estatais  existentes.

A Grã Bretanha concentrou suas energias  colonizadoras no projeto geopolítico de manter um domínio territorial  contínuo, "do Cairo (Egito) até a cidade do Cabo (África do Sul)",  eliminando eventuais "Estados" muçulmanos que estavam no caminho. Por  outro lado, em algumas áreas da África Oriental, os britânicos  promoveram a vinda de trabalhadores rurais muçulmanos originários das  Índias britânicas para regiões das atuais Uganda e África do Sul.

A  evolução do colonialismo nas regiões da África muçulmana, gerou uma  situação paradoxal: ao mesmo tempo em que os muçulmanos perdiam poder  político, o islamismo teve um crescimento sem precedentes. Tribos  inteiras se converteram. Isso ocorreu no contexto das rápidas  transformações socioeconômicas engendradas pela colonização.

A  urbanização e o enfraquecimento das tradições familiares e sociais,  bases fundamentais das culturas africanas, geraram um ambiente  conturbado que beneficiou o islã, religião que combina o universalismo  de sua mensagem com uma ideologia de clara oposição ao Ocidente  imperialista. Aliás, é essa combinação que explica, em grande medida, a  condição do islamismo ser, na atualidade, a religião com o maior ritmo  de crescimento em todo o mundo.

bottom of page